09/03/2009

Por onde eu ando?

Sim, eu ando sumida. Bom, pelo menos da parte da internet que não envolve o twitter (já que o twitter é uma coisa bela que toma pouco tempo e pode ser utilizada para reclamar do trabalho em intervalos de alguns segundos durante o dia).

Sendo extremamente honesta, eu estou sumida do mundo em geral. De casa pro trabalho, do trabalho para casa. Por quê?

Escrevendo. Escrevendo muito.

Estou na reta final, mais de 70 páginas de texto corrido, mais de 47.000 palavras. As coisas estão finalmente se encaminhando para um final (o que, talvez, leve mais umas 10.000 palavras do ponto onde estou agora) e eu não consigo pensar em outra coisa. Sinto muito. Muitíssimo. Peço desculpas públicas ao namorado, que precisa me aguentar olhando para um ponto inespecífico do mundo e falando dos meu personagens como se fossem gente, aos meus gatos que estão negligenciados, aos meus colegas de treino por minha total falta de concentração e memória ultimamente, a minha família por meu mau humor e tendência a me esconder no escritório durante todo o meu tempo livre. E a vocês, que não têm a mínima idéia de por que eu desapareci ou se eu já estou morta a essa altura. Desculpa, pessoal.

Então, para me redimir, fica um trecho do que estou escrevendo, com a ressalva de que é um trecho cru (ainda que revisado para postagem, eu não sou completamente louca) e que ele pode ser modificado ou simplesmente desaparecer do produto final.



[...]

A primeira coisa que veio à memória de Márcio, ao acordar, foi a frase ‘Após descartar toda opção possível, o impossível é tudo que resta’. Agora, enquanto ele esperava Cristina em frente ao Centro, ela ainda ecoava em sua mente.

“Impossível talvez não, mas definitivamente improvável.”Ele resmungou, sem perceber que falava em voz alta.

“O que é improvável?” Cristina se anunciou com a pergunta. Ela estava vestindo um vestido simples de verão, com uma estampa de pequenas florzinhas sobre um fundo preto que chamava atenção para a palidez de sua pele. E botas. Belas botas que faziam Márcio se perguntar sobre onde exatamente iriam.

“A situação toda. Ter que achar um mago. Tu.”

“O que tem de improvável sobre mim?” Ela se divertiu com a idéia e a experimentou por um tempo antes de atravessar a rua e acenar com a cabeça para que Márcio viesse junto.

“Além do negócio com espíritos? Talvez o fato de que tu se deu o trabalho de me ajudar. Por nada. Eu ainda não consigo entender isso”. Ela não respondeu, mas manteve o sorriso. “Onde estamos indo?”.

“Em um lugar interessante” Ela disse, entrando em um barzinho discreto, de vidros escuros.

A placa, metade apagada, dizia apenas ‘Imaginário’ em letras góticas e deixava a cargo do observador exatamente o quê imaginário eles queriam dizer. Por dentro, o bar tinha mais espaço, o que era compreensível já que se tratava de uma daquelas velhas casas portuguesas reformada para tirar as separações de sala. As paredes eram vermelhas e cobertas de fotos, recortes de jornal e material sobre supostos eventos sobrenaturais. Imaginário, claro. Ao lado do bar, em um balcão antigo que provavelmente pertenceu a um café na época da República velha, uma estátua de um alien de olhos grande e negros segurava uma placa avisando que eles só aceitam cheques de contas com mais de um ano.

O porteiro cumprimentou Cristina como um velho amigo, anotou os nomes deles em comandas e avisou que hoje era dia de sarau. Envolvia muita poesia, telas, música, artistas performáticos (tudo bem, artista, era apenas um) e um ponche de vinho doce e fraco, mas grátis com o ingresso. Esse tipo de evento, segundo Cristina, era o mais popular dos que aconteciam por lá, então eles tinham muita sorte de precisar de um mago justo agora. A outra alternativa seria esperar que a pessoa que ela estava procurando ainda usasse o mesmo número de celular, e isso não parecia muito provável.

Márcio olhava em volta sem saber o que ou quem sua amiga estava procurando, mas tentando ajudar de qualquer maneira. O local estava movimentado, para um início de noite, e Márcio não podia deixar de apreciar a atenção que recebia das moças presentes. É claro que grande parte do interesse era por ele ser obviamente um forasteiro e estar acompanhado de Cristina, mas ele não precisava pensar nisso.

“Aquele no bar é o dono, o Juarez,” ela disse, apontando um homem nos seus trinta anos de cabelos e olhos escuros, “ele montou este lugar aqui por acaso. Ele só colecionava essas histórias por diversão e resolveu colocar aqui por capricho.”

“Então foi só coincidência?” Ele diz, agradecido a Cristina por ter puxado conversa.

“Hum?”Ela disse, voltando o olhar para ele. Não é como se ele estivesse reparando, mas ela parecia ter ganhado um brilho extra de expectativa nos olhos desde que eles entraram ali. Isso deixou Márcio pensando se a pessoa que eles procuravam não tinha algum significado especial para ela.

“A clientela.” Ele diz, ainda examinando a moça.

“Bom, propaganda boca-a-boca sempre foi o melhor tipo...” Ela fala, olhando por cima do ombro de Márcio. Como ela estava de frente para ele, o rapaz pode notar quando ela achou quem estava procurando. Ela levanta os cantos da boca apenas um pouquinho de nada e distraidamente arruma o a franja para trás da orelha. “Acabo de achar ele.”Ela confirma.

Antes mesmo que Márcio virasse a cabeça para olhar atrás dele, ele tinha certeza que era um homem, jovem e que pelo menos Cristina o achava bonito. O amigo de Cristina era baixo e magro, tinha feições longas e cabelos compridos, pretos como seus olhos. Ele estava encostado na ponta do balcão com um copo de whisky, e até pouco tempo estava conversando com uma moça de cabelo rosa e saia verde que simplesmente não parecia combinar com o estilo dele. Ele vestia jeans escuros, uma camisa social e um blazer, como se estivesse vindo direto de um escritório e aquele fosse apenas mais um bar de happy hour. Ele fumava algo estranho e doce, aromático como um incenso. Enjoativo. A Voz em sua cabeça comenta que ele nunca mais pode sentir cheiro de Bali Hai sem lembrar de Jorge, e que se em algum momento da vida ele havia sentido ódio a primeira vista, tinha sido por esse cara. Márcio concorda silenciosamente, o que, em retrospecto, não é a atitude mais sã que ele já teve.

“Este,” Cristina explicou “pode não ser o melhor exemplo de mago que eu posso te dar, mas é o que eu consegui. Peço desculpas em antecedência”. Márcio abriu a boca para perguntar por que, mas tornou a fechar imediatamente. Ele não precisava saber. “Vem.” Ela disse, pegando-o casualmente da mão, como se eles fossem velhos amigos.

O rapaz fez contato visual com Cristina e esboçou um sorriso que se turvou um pouco quando viu Márcio.

“Alice Cristina, meu país da maravilhas, há quanto tempo!” Ele soava desdenhoso e o sorriso que abriu não era tão fresco quanto o de antes.

“Jorge.” Ela desenlaçou sua mão de Márcio e a estendeu para um cumprimento, mas acabou sendo puxada para um abraço. De perto, Jorge cheira a ervas e metal. Enquanto Cristina tentava se desvencilhar do abraço, ele comenta, no seu ouvido, que ela não precisa levar o namorado novo para receber a benção dele, eles estão quites.

“Márcio é um amigo.” Ela diz, propriamente incomodada. “Um amigo com um problema”.

Jorge olha Márcio de cima abaixo, demoradamente. Ao contrário de Jorge, que pertencia ao local como se ele houvesse vindo com a mobília, Márcio parecia um pouco normal demais. Como se fosse um esforço. Jorge via isso claramente, e via outras coisas, mas não estava exatamente interessado.

“Que tipo de problema ele pode ter que você não possa resolver com algum das suas magias de ‘sua mulher de volta em 15 dias’?” Ele poderia ou não estar sendo sardônico.

“Ele teve uma experiência. Alguma coisa temporal, talvez algo mais. Ele precisa aprender a lidar com isso, talvez controlar.” Cristina soava como um médico comentando um diagnóstico.

“E eu deveria ajudar?” Ele apaga o toco do cigarro no cinzeiro ao seu lado. “De graça?”

“Olha, Cristina, eu agradeço a tua intenção, mas acho que não vamos conseguir nada por aqui. Eu vou indo. Te vejo domingo.” Márcio não agüentava mais a prepotência do rapaz, e não sentia nenhuma necessidade de agüentar. Sempre existe uma outra possibilidade que não envolva um filhadaputa do naipe de Jorge. Ele se virou para sair e deu dois passos antes que fosse chamado.

“Você não acredita.” Jorge disse, elevando a voz apenas o bastante para que Márcio o ouvisse. “Não acredita em nada disso, não é? Nem depois de ter acontecido com você.”

[...]




Okay, isso foi um bom pedaço de um capítulo.
Até!
PS: TODOS OS DIREITOS RESERVADOS.

5 comentários:

  1. Anônimo10:59 AM

    Nossa, você é assim só em situações extremas como a concentração num projeto? Hahah, eu sou assim normalmente!

    Como sou freqüentador recente do blog, não sei do que o texto se trata. Do que se trata?

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  2. É um trecho do meu livro (sem nenhum nome realmente definido, embora em chame de "Maluco Beleza" quando ninguém está olhando ^_~).

    Eu não sei muito bem como explicar sobre o que é o livro. Não é exatamente ficção científica, não é fantasia, muito menos fantasia urbana.

    Ele é basicamente sobre um cara que, estando no fundo do poço, decide entender uma habilidade que ele tem e que nunca tinha percebido que é única. Então, ele vai cada vez mais fundo em no mundo marginal das coisas definitivamente estranhas e possivelmente mágicas da vida.

    Quanto a concentração, bem, eu aprendi a manter meus pensamentos em bolsinhos onde eu posso puxar eles na hora que vou escrever. Muito útil ^^.

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  3. Anônimo2:27 AM

    Hehehehehe. Eu achei beeeeeem legal.

    E me lembra TAAAANTO dos titulos da Vertigo dos anos 80-90...

    Saudades dakeles titulos... ;(

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  4. Oi. Eu quero ler.

    E espero ter desenhos pra te mostrar em breve.

    - pra falar a verdade, fiquei com vontade de quadrinizar é esse teu livro. Parece estranhamente com o que eu gostaria de escrever, se eu escrevesse.
    Mas achei que a tia não ia gostar XD

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