O telefone tocou três vezes antes dele atender.
- Alô.
- Marcelo? – diz a voz feminina.
- Hum.
- Você não apareceu.
Silêncio.
- No cinema. Ontem. Você ia me encontrar e não apareceu.
- Olha, eu não estou em condições---
- Você é que queria me encontrar. Eu não estou ligando de desesperada nem nada... Só queria dizer que você é um idiota. Se acha que é engraçadinho deixar uma garota como eu esperan---
Barulho. Ritmado como passos, mas de algo muito grande. E um rosnado. Quase um guincho, na verdade, mas com mais profundidade. Depois disso uma interferência (ou vento soprando no microfone). E...
- AHmeuDEUS!
- Marcelo? Tudo bem?
Madeira se quebra ao fundo. Garras raspam no concreto. Uma fungada (ou seria a rede falhando?). Passos apressados. Agora, sim, a linha do celular falteia. Laura considera desligar e ligar mais tarde. Ele parece ocupado.
- Eu... – Ele respira fundo, tenta não parecer ofegante – Essa... Não é... Uma boa... Hora. Mas... Se adianta... Desculpa. Eu não tinha... Como.
A resposta e um estouro. Depois um urro. Ao longe, bem baixinho, ela pode ouvir outras vozes se aproximando. O urro torna-se um guincho torna-se um choro e se cala. O baque surdo de algo pesado caindo ao chão. Muito pesado.
- Tudo certo aí?
- --okay, wyrm derrubada, certifiquem os sinais vitais e vamos dar continuidade ao anilhamento. Opa, desculpa, eu estava falando com o pessoal aqui. Tive uma chamada de última hora. Emergência dracônica, um espécime recém-desperto estimamos que de 400 anos.
- Eu achei que eles não existiam mais.
- É bom que existam ou eu estaria sem emprego. Hahaha.
Laura ri junto, meio nervosa. Depois ela inventa um motivo para desligar antes que ele possa remarcar o encontro. Ainda que não seja fácil para uma meia-dríade em sobre-peso achar um namorado, de jeito nenhum que ela vai sair com um cara que gosta de estar perto de monstros escamosos que pesam toneladas. Existe desespero e existe desespero. Só faltava ele ser um daqueles que escrevem “padrão vertical diferenciado” no perfil*.
Além do mais, ela pensa se servindo de um pouco mais do sorvete de chá-verde 100% vegetal, ela não agüenta mais biólogos. E ele deve cheirar a fumaça.
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Na verdade, eu estou postando isso aqui por curiosidade. Não sei como alguém que não seja eu pode reagir a esse tipo de conteúdo. Não tenho a mínima idéia. Por isso, exatamente para ter cobaias, eu estou postando. Tenho meia dúzia de historinhas de fantasia moderna com um certo pastiche de D&D dentro delas, mas não sei o que fazer. Possivelmente vou escrever e postar por aqui, ver se divirto alguém. É o mínimo, certo?
Interessante... Seu eu fosse ela tambem nao sairia com esse cara...
ResponderExcluirFazer o que, opostos NEM sempre devem ser analisados tao profundamente ;D
Meu, eu odeio quando ninguem posta nos posts mais importantes... ¬¬
ResponderExcluirOnde jah se viu deixar os contos da Saoki sem comentario!?
noapte buna (boa-noite) cara Letícia Saoki, certo? Meu nome é Vlad, conde Vlad, e adorei vosso 'mini-conto', muito divertido mesmo... Conheci vosso divertido blog pelo blog do grande Moisés, gente muito boa ele... Tu tens grande versatilidade e facilidade para contar histórias, no início pensei que tratáva-se de um 'Lobisomem' mas depois constatei que era uma 'dragonêsa' na realidade? ou Dragão? Enfim, excelente! Minunat! (maravilha)! Perdoe-me às vezes me expressar em romeno, mas é a força do hábito, aguardo novos mini-contos ansioso, um abraço do conde, nhac, nhac, nhac, 'pa', digo, tchau! Voei!
ResponderExcluiro.O
ResponderExcluirEle me persegue!!!!
SOCORRO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Posta logo, to com saudades... :)