Foi numa mordida na empada que ele compreendeu tudo. Por um milésimo de segundo nada mais importava. Café ou intervalo, lanche ou cigarro. Tudo ficou claro e todas as perguntas se tornaram obsoletas. Era uma daquelas experiências únicas da vida, agora tudo mudaria. Ele percebia a verdade, aquilo que se escondia por trás das lanchonetes gordurosas, as ruas cinzentas, os escritórios sufocantes.
Levantou-se. Ele tinha urgência em avisar a todos (Deus, como é simples!), mas sua mente estava estranhamente clara. Era como se as palavras se enfileirassem para falar através dele. Na mesa do canto um senhor de boné marrom desvia os olhos do seu jornal. A garçonete continua entretida com suas palavras cruzadas. O casal segue sua discussão entre sussurros.
Ele bate com as mãos espalmadas sobre a mesa, procurando atenção.
- Ouçam! - diz - É tudo tão simples. Se nos---
Mas ele perdeu tempo demais. Mais tarde, no jornal, a notícia dizia que foi uma falha mecânica, algo sobre os freios. O caminhão perdeu o controle e entrou esquina à dentro, reto pela vitrine de uma lanchonete. O motorista morreu na hora, mas a ênfase ficou na vítima ilesa, um funcionário que havia sido trancado no estoque em uma brincadeira dos colegas (agora mortos). Na tevê ele acendia uma vela para os colegas perdidos. Ele não os chama de amigos.
Dez mortos, três feridos e um iluminado a menos no mundo.
por
Ana Letícia Lopes
Isto é um mini-conto, caso algué,m não tenha entendido.
ResponderExcluirQualquer semelhança com fatos reais é mera coincidência. Eu pensei isso aqui enquanto tomava banho ante-ontem.
olha só...^^
ResponderExcluirmassa""
é o tipo de coisa q acontece nos livros do Douglas Adams...