"Toda fotografia é precisa. Nenhuma delas é a verdade."
- Richard Avedon
Isso é algo que vai além da simples suspensão do descrédito, é a capacidade humana de entrar em um acordo social. É o 'Certo, eu aceito acreditar nestes seres fictícios como pessoas de verdade desde que eu seja recompensado com uma boa história' que a a platéia diz. Tudo que se precisa oferecer com a arte é uma doce mentira, algo que o leitor se sinta inclinado a aceitar.
É como a foto aí do lado. Eu não tenho a mínima idéia se a figura no meio está realmente se equilibrando sobre bambus, mas eu prefiro acreditar que sim.
Um escritor, não importa qual gênero ou estilo escreva, precisa oferecer algo para a imaginação do leitor, deixar que essa escolha seja feita por vontade própria. Ninguém vai ler por obrigação, ou pelo menos ninguém deveria. A apreciaçao da arte é sempre um ato voluntário, além de um momento lúdico e pessoal, então ler contos deveria ser algo como observar uma foto do Hiroshi Watanabe. Emergir em algo belo, estranho e único.
Fotógrafos, os bons fotógrafos, possuem uma sensibilidade diferente para qual ênfase se deve dar a alguma coisa, o que é realmente interessante, o que toca naquela cena, qual a melhor maneira de mostrar isso. Essa é uma habilidade que também cabe aos bons escritores. Saber não o que escrever, mas como. Isso é o raro. Assim como é raro uma pessoa ter um olhar afinado como este aqui.
Saber o que escrever é como filtrar a realidade. Existem muitas coisas fantásticas que acontecem o tempo todo, histórias que só precisam de alguma edição, não para que seus donos não sejam identificáveis, mas por que a ficção abstrai fatos da realidade e os torna algo icônico (que, ironicamente, parece mais real para alguns). Um momento parado no tempo onde aquelas pessoas são personagens e sempre mostrarão aquelas características, daquele jeito. Mas personagens não são pessoas e histórias não são a realidade, assim como fotos não mostram da verdade mais do que uma opinião.
Tudo são pontos de vista.
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