17/02/2009

RPG (também) é coisa de adulto


Este artigo do Boston Globe entrou direto em uma discussão interna que eu estava tendo enquanto considerava criar um projeto novo de LARP. Depois de ler, decidi que sim, vou fazer meu projeto.

Nem que seja por que, lendo o artigo condescendente e sardônico do jornal eu me lembrei que por mais que a imagem pública do RPG continue sendo a de adolescentes americanos que não sabem lidar socialmente com outras pessoas - então fingem, ou de simples freaks escapistas, eu não vejo nada exatamente errado em ser qualquer uma dessas coisas.

Sabe o que me incomodou no artigo do Sr. Diaz? Que ele escolheu propositalmente entrevistar os adultos que tem vergonha de ser RPGistas por hobby. Como se isso fosse alguma coisa muito estranha, ter um hobby. "Mas RPG é escapismo e Adultos Não Precisam Fingir Nada" diz um moço. Ah, deuses, eu não aguento mais as mentiras brancas. Quem disse que adultos não precisam de tempo sem pensar em nada? Adultos precisam de tempo livre na sua mente mais do que qualquer outra pessoa. Todo mundo tem contas, parentes, trabalho e uma infinidade de responsabilidades que se acumula.

Eu lembro muito bem o significado que RPG tem na cabeça de um adolescente. É cultura, interação social, escapismo produtivo e método de alívio de estresse em uma coisa só. As únicas coisas que chegam perto em termos de utilidade para sobreviver a adolescência é encher a cara na rua ou participar de uma banda. E todos sabemos que quem não tem talento ou interese musical acaba realmente derretendo o cérebro*.

RPG é saudável. Essa não é uma imagem comum, mas é a mais pura verdade. Jogar RPG, seja você criança, adolescente adulto ou ancião, é uma maneira de manter sua criatividade viva, de sentir e participar de coisas ativamente (ao contrário da emoção passiva dos filmes e literatura). Vocês sabiam que pesquisas recentes descobriram que quando ouvimos ou lemos uma descrição, nos instintivamente usamos as partes do cérebro que nos relacionam com o ambiente? Para a nossa cabeça, quando lemos uma história, como uma boa sessão de RPG é como se estivéssemos lá.

E alguém ainda tem dúvidas sobre o poder desestressante da simulação? Tanto tempo após o psicodrama? Após os games? Após o Wii ser usado como terapia? Ninguém acusaria nenhuma dessas coisas de serem Ferramentas do Escapismo (assim, capitalizado, como se fosse algo tenebroso).

Qual é o problema de preferir usa a interface gráfica original? O que há de terrível em trocar de pele por algumas horas, experenciando coisas que nunca seriam possíveis na nossa vida? Não é por isso que algumas pessoas passam todo seu tempo livre jogando jogos de simulação de vôo?

Jogar RPG depois de adulto pode não significar a mesma coisa que na adolescência. Existe um mundo de diferenças na maneira que se pensa quando se é adolescente ou adulto, e isso influencia o jogo. Mas só para melhor. E não há motivo para se ter vergonha de ter idéias de diversão diferentes dos outros. Pessoas são diferentes, ou o mundo seria muito chato.

Enquanto isso, cada um com a sua diversão.



Saoki é RPGista e não tem vergonha. Se não me engano, até comentei sobre isso na parte de hobbies do meu currículo (e ganhei o emprego).
PS: por sinal, aquele magrão que fala no artigo que jogou campanhas de seis meses? Well, a nossa campanha de mago de 3 anos totally pwns a dele. ^_~

*É claro, existem crossovers. O meu Sr. Namorado, por exemplo, é um RPGista de banda que adora cerveja (como um bom viking que ele é).

6 comentários:

  1. indiscutivel o que você disse.

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  2. Anônimo12:15 AM

    Qualquer forma de diversao e trabalho eh escapismo o.O

    Qual o problema dessa gente?

    (como assim, nao acreditam que trabalho eh escapismo??? se tu sonha por uma vida melhor tu tah sendo escapista de certa forma)

    Eh, RPG eh divertido e eh uma otima forma de fazer amigos. Tem gente que bebe e vai para clubs para fazer isso ^^ (ahh e RPG em tese eh mais barato)

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  3. Muito bom esse seu post...

    Não sou mais um adolescente, muito menos um ancião...me encontro nessa faixa de idade dos chamados "adultos". Não é que eu tenha vergonha de jogar RPG, mas tem horas que é melhor você omitir que jogar para evitar algum tipo de julgamento.

    Legal o seu blog, fiquei sabendo pelo podcast do ZBCast.

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  4. Anônimo2:07 AM

    Você colocou seus hobbies no currículo e ainda conseguiu o emprego?!

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  5. Legal teu texto.

    Não tenho vergonha do RPG, mas geralmente não comento em público por não ter paciência para explicar do que se trata.

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  6. Exatamente. Diversão é vista como desnecessária quando se é adulto. Como se a vida fosse apenas contas a pagar e trabalhos a fazer. Isso deveria ser o segundo plano.

    Depois de ler seu texto, até me deu vontade de tirar a poeira dos velhos tomos do D&D...

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