27/01/2009

Corações de Papel: Na Toca do Coelho

Quando eu tinha 16 anos, eu tinha duas paixões fictícias. Um era um homem de papel, o outro um rapaz de carne e osso. Em comum os dois tinham o fato de serem disfarçadamente cruéis.

Era uma situação tóxica, eu sei disso agora. Foi assim por um bom tempo, eu tive chance de pensar e repensar tudo, era como o meu próprio canal de reprises, alí na minha cabeça.

Pude ver que o que me atraía ao personagem era a mesma coisa que o que me atraía ao moço. Nenhum deles estava ao meu alcance. Isso é uma coisa reconfortante, saber que o que quer que você faça quanto a uma situação, você nunca vai ter sucesso. Quem precisa se preocupar com as possibilidades? Vai dar errado.

É claro que existiam os agravantes. O rapaz de papel era poderoso, imortal, sedutor. Se existisse, ele poderia ter o que quisesse de mim sem esforço. O de carne e osso um emaranhado de idéias e atitudes conflitantes, de queros e não queros, de doçura e crueldade. Ele também era poderoso.

Tinha poder sobre mim.

Nos últimos dias eu tenho pensado muito sobre o que me leva a ter certas atitudes e, como qualquer um faria, isso significa destrinchar o meu passado em busca de significado. E me levou às minhas paixões, fictícias ou não.

Eu tenho um hábito, quase um vício, de ser fascinada pela possibilidade do fracasso. Seja na minha repetida escolha de homens cruéis, seja na minha maneira de deixar que as oportunidades se vão. Eu gostaria muito de dizer que, uma vez tendo compreendido que todos os malvados da minha vida são um cara só, que tudo isso é medo do sucesso e do comprometimento eu posso agora enfrentar isso e prometer que nunca mais terei a mesma atitude covarde.

Mas eu não posso.

E a verdade é que eu conheço minha atitude há algum tempo, só nunca tinha feito a conexão entre crueldade, coração partido e medo do sucesso. E, agora que fiz, não sei onde isso vai dar. O que sei é que para alguém que tira todo momento do seu tempo sozinha para pensar sobre suas atitudes e como transforma-las em algo diferente, existem mais efeitos colaterais a ser deixada sozinha para pensar enquanto assiste a duas temporadas inteiras de um seriado sobre um sociopata absurdamente charmoso.




Este post é a minha contribuição para o 5º Rabbit Hole Day. Feliz aniversário, Lewis Carrol. A toca do meu coelho leva para dentro de mim.

6 comentários:

  1. Anônimo2:18 AM

    Hmmm, tudo isso para dizer que tu tah apaixonada pelo Dexter?
    hahaha

    Brincando...

    Eh, pois eh. sempre eh bom usar o blog como descarrego. Eh isso ou igreja universal. Eu prefiro o blog XD

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  2. Anônimo2:20 AM

    Ahh, obrigado por ter atualizado os teus parceiros de crime. Nao soh pelo fato de eu estar la, mas pelo fato de outros blogs interessantes estarem lah! :D

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  3. Sobre o Dexter: Na verdade, foi mais um momento de "Ah, se eu tivesse 15 anos. Nossa, se eu tivesse 15 anos...".

    Não gosto de usar o blog para desopilar. É como usar uma parede para confessar alguma coisa, mas envolve mais palavras e a gente eventualmente ouve o que as pessoas que passam comentam.
    Mas ontem era um dia especial.

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  4. Oi!
    Eu te indiquei para um Meme. Espero que goste!

    http://www.ooze.com.br/2009/01/29/25-coisas-que-aprendi-com-rpg/

    Abç - Rey

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  5. Estou louca de preguiça de mandar um email, que é coisa tão séria. O email é a nova carta (assim como rosa é o novo preto, hahaha), e o meu tédio de chuva me permite apenas recadinhos inocentes.

    Li e me peguei imaginando o rosto do criminoso. Confesso que não consegui descobrir qual deles seria... mas leio teus escritos e parece que é sobre um pedacinho da minha vida também, de raspão.

    (sim, foi isso que senti lendo teu roteiro também. Queria colocar meus desenhos em ordem, queria participar dessa toca mental. I''l try my best. Beijo de boa noite. Julia)

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  6. Anônimo3:24 AM

    ops, a monga comentou com o perfil do namorado. Maldito firefox decorador de senhas.

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