02/09/2005

Quando tudo pode ser arte, porque a errada sou eu?

Quando começei a faculdade de Artes, eu sabia o que me esperava. Não apenas eu havia sido avisada pelos meus amigos artistas (e eu digo artistas sabendo que eles são muito mais artísticos, em sua disconsiderada arte, do que grande parte dos "artistas" que eu viria a encontrar no meio acadêmico ou fora dele), mas também alguma coisa dentro de mim exigia que eu reconsiderasse, que fosse fazer Letras (minha outra paixão), por que os modernistas dominam o momento como se ainda estivéssemos no pós-guerra e não no século 21 e eu estaria perdida. E sozinha.

(Começando a falar sobre isso eu fico envergonhada. Penso nos problemas que pessoas com vidas bem mais difíceis do que eu enfrentam sem reclamar, e que ter um conflito estilístico, lutar para que sua opinião seja aceita, é algo bem mais simples do que ter que lutar para sobreviver. Mas que seja, infelizmente o meu conflito é pequeno e alienado, ele é apenas meu e não o de uma nação, um grupo. O que poderia eu fazer sobre isso? Alegrar-me? O meu conflito continua sendo meu.)

Ainda assim, ignorei todos os avisos e fui em frente. Me fiz de cega aos olhares que recebia dos moderninhos, ignorei os comentários de que não basta bom gosto e noção estética, de que o figurativo está morto e que desenhar me tornava uma simples artesã. Chegaram a me dizer que não existe talento logo após comentarem que eu certamente tinha talento (moderninhos muitas vezes não fazem sentido).

É claro que eu nunca deixei de me enfurecer. Sempre que eu ouvia um "mas isso não é arte" vindo de alguém que "trabalhava" algo suspeitamente similar ao expressionismo abstrato de 1950 sem saber exatamente porque, o Algo dentro de mim se remexia, batia as asas inquieto, ciscava o chão com as garras. Mas eu engolia e respondia dentro das armas deles, os modernistas, citava dois ou três contemporâneos que trabalhavam o figurativo e comentava que toda a luta de um Duchamp ou dos Fauves era exatamente pela liberdade artística.

Mas eventualmente a pessoa cansa. Cansa, mas não cede. Cansa, não desiste. Apenas cansa. De ser a única que precisa ser persistente, consistente, consciente, apurada em técnica e forte de espírito.

No mais recente momento "mas isso é arte?", a ofensa foi agravada por pedidos de que eu lesse mais e fosse mais sensível, mais filosófica. [Como se houvesse muita sensibilidade e filosofia em quadrados branco-sobre-branco ou em manchas ambíguas (mas não extamente interessantes) de cores mal-escolhidas.] Fiquei mais furiosa do que em toda a minha vida acadêmica. Não por ter minha arte questionada mais uma vez por mais outra pessoa viciada no circuito de galerias do mundo da arte moderninha e que não consegue mais ver o mundo com outros olhos, mas por ter a minha filosofia e a minha sensibilidade atiradas na sarjeta.
Foi uma ofensa completa e empacotada para takeout.

A Sra. K conseguiu realmente me tirar do sério, e eu ainda não consegui voltar totalmente ao me centro. É claro que eu vou contra-atacar. É certo que eu vou. Nunca fui o tipo de pessoa que desiste, mesmo quando tudo que eu quero é fugir (ou de repente me aninhar em algum lugar confortável e dormir por algumas décadas). Já estou preparando a minha defesa com ajuda de alguns teóricos moderninhos e do trabalho de alguns artistas de renome indiscutível. Se tudo der certo ela nem vai ver o que a atingiu, e eu vou continuar com o meu estilo. E tudo vai dar certo.

Portanto, se eu sumir por uns tempos, ou se parecer meio alienada do mundo, não estranhem, nem decidam por não me chamar para uma festa ou filme ou conversa. Continuo por aqui, mas estou ocupada tentando distorcer alguns paradigmas, e todo mundo sabe que isso é um trabalho complexo e que pode ou não envolver pentagramas, velas coloridas e cânticos em linguagens obscuras.


Beijos e abraços...
ps: Sim, eu estou cansada. Mas nem por isso derrotada.

3 comentários:

  1. Anônimo11:50 AM

    Hmm...

    Vc pode achar que eu naum entendi... (e bem, creio que naum entendi do jeito que tu gostaria que eu entendesse) mas eu compreendi muitas das coisas qe vc escreveu. Realmente, conte com meu apoio!! ^^

    Vamos às armas!!!!

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  2. Anônimo1:56 PM

    Hmmm, sei lá, acabei achando que meu post pode gerar mal-entendidos... sei lá pq :P

    O fato é que eu vou te apoiar, incondicionalmente! Se precisar de uma bengala, use mesmo! Eu ficarei muito feliz em ajudá-la, mesmo se for de forma tão,... pequena quanto essa.

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  3. Eu não entendo muito de arte né... mas para mim existe um coisa... TUDO É ARTE!! Quando tu acreditas que o mesmo é... Acho que não dá pra dizer mais nada... não entendo muito de arte, como supracitado.

    ;@@@@@@

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